Questões e Respostas

O que é a Boal?
Como se estrutura?
A quem se destina?

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> O que é a Boal?

Inserida no Centro de Investigação LabCom, a BOAL – Biblioteca Online Áudio de Literatura – constitui uma base de dados de obras literárias que se destinam a ser ouvidas em suporte informático online.
Com o intuito de franquear o usufruto imediato – que só os meios informáticos permitem – de alguns textos clássicos da literatura portuguesa, procura-se contribuir para uma sua difusão mais generalizada (o que se torna crucial quando obras fundacionais da literatura se encontram indisponíveis no mercado editorial). O principal desafio a que a BOAL se propõe é, consequentemente, reformular os modos de fruição da literatura, à luz de novos conceitos de comunicação, a que o objecto literário já não se pode manifestar alheio.
Um dos pontos decisivos que presidiu à elaboração desta biblioteca em formato áudio, e da sua bibliografia de clássicos portugueses audíveis online, respeita a uma busca de resposta à generalizada perda do valor do livro enquanto objecto, essencialmente nas camadas etárias mais jovens, tendendo-se à sua progressiva substituição por novos materiais disponíveis em suportes de comunicação como a internet, que permitem uma fruição imediata e praticamente imediada. Esta situação, que, à primeira vista, parece diluir a noção da obra como objecto, altera consequentemente a percepção do texto literário, entendido não só como sentido, ou como suporte de conteúdos comunicáveis, mas como tessitura material, o que significa que seja, de igual forma, modificada a relação mantida entre o leitor e a obra, que nos habituámos a pensar como uma relação de materialidade.
Com este projecto de uma biblioteca falada procura-se, através das próprias condições de virtualidade características dos meios informáticos online, devolver à literatura uma tradição de oralidade, que lhe está na origem: lembremos a importância dos rapsodos da Grécia Antiga, para a difusão de obras clássicas, assim como algumas marcas discursivas indicadoras de que o texto se destinava a uma leitura de viva voz (Fernão Lopes será um bom exemplo desta situação na época medieval, assim como o Padre António Vieira para o século XVII), ou mesmo sessões públicas de leitura que vêm sido actualmente recuperadas para devolver à literatura a sua componente oral. Por outro lado, acrescenta-se às figuras do autor e destinatário (neste caso já não leitor, mas ouvinte(s)) uma outra figura: o intérprete, pensando a expressão tanto no seu sentido etimológico, com o significado de intermediário entre duas partes (o autor e o leitor), como na significação do termo interpretar quando aplicado a uma partitura musical; o texto que aqui se oferece online, numa versão audível, acresce relativamente ao texto escrito o facto de se reconfigurar também como uma sua interpretação oral. Deste modo, é possível devolver à tessitura literária uma marca de oralidade, a articulação vocal que também a distingue (a língua é sobretudo som e voz), características perdidas pela difusão da literatura em formato papel.
A discussão emergente deste projecto respeita, portanto, a uma forma de repensar a alta tecnologia e novos formatos de comunicação como meios válidos e disponíveis para recuperar uma vertente tradicional da fruição da literatura, que tem vindo a ser descurada.


> Como se estrutura? [ topo ]

O corpus fundamental da BOAL centra-se em textos de autores clássicos da literatura portuguesa, tendo em conta uma definição alargada de clássico, como a que defende Italo Calvino em Porquê Ler os Clássicos?, sugerindo que é clássico aquele texto relativamente ao qual generalizadamente se admite estar a reler, mas não simplesmente a ler. Ou seja, buscar-se-á inserir na Biblioteca Online Áudio de Literatura obras ou trechos de autores que façam parte de um cânone institucionalizado, com o intuito de dar a reconhecer (quando não simplesmente a conhecer) uma herança em que enraíza a história literária portuguesa, não passando ao lado de uma sua interpretação em formato de leitura oral, que além do codex textual, dá a conhecer a língua nos seus diferentes usos. Procura-se nesta página oferecer um panorama diacrónico, dando conta dos diferentes registos de linguagem, ao longo de momentos históricos decisivos da nossa literatura, procedendo-se ao registo áudio de diferenciados níveis de escrita, correspondentes a diferentes géneros de discurso.
A par dessa perspectiva histórica, procura-se chamar a atenção para passagens particulares, procurando evidenciar o tratamento dado a algumas categorias da narrativa (a construção de personagens que hoje em dia nos servem de exemplos metafóricos, praticamente independentes dos textos que as conceberam, para designar certo tipos de comportamento – a designação de conselheiro Acácio, Alencar, Palma Cavalão serão só alguns exemplos fecundos), assim como alguns momentos cruciais no desenlace da intriga, inícios paradigmáticos de obras clássicas da nossa literatura, ou por exemplo descrições que podemos considerar dignas de antologia. Por isso, além das entradas destinadas aos índices de autores e textos, e da sua disposição por épocas histórico-literárias, existem na página secções dedicadas a personagens, descrições e inícios, para dar conta de especificados momentos textuais.

> A quem se destina? [ topo ]

Pelas suas características, a BOAL destina-se a um leque muito alargado de destinatários, que vai desde os bibliófilos atentos à fruição de novas experiências literárias, difundidas por outros meios que não os tradicionais, até estudantes de diferenciados graus de ensino, desde o secundário ao universitário, pela oferta variada de textos e autores, a intersectar diferentes perspectivas sobre a obra literária. Não será de excluir, também, o acesso de camadas mais jovens a esta biblioteca falada (nomeadamente o terceiro ciclo), exactamente pela sua vertente oral, que pode ser capitalizada pelos próprios professores, de modo a incentivar jovens estudantes, por ventura alheados de hábitos de leitura, mas à partida disponíveis para trabalhar online com os mais sofisticados meios informáticos.
Importa ter em conta que não só os estudantes e professores das áreas de línguas e literaturas poderão encontrar em BOAL um instrumento de trabalho e pesquisa, como à partida os cursos da área de comunicação facilmente encontrarão nesta biblioteca válidos elementos de estudo (são, aliás, na sua maioria estudantes universitários destas duas áreas – Literatura e Comunicação – a concretizar a transcrição dos textos escritos para uma sua versão oral).
Não obstante a previsão desta alargada rede de destinatários, a BOAL tem como objectivo específico suprir lacunas na difusão de clássicos da literatura portuguesa, tendo em vista a procura de superação de duas situações concretas:

• A reduzida rede de acesso a obras clássicas (e não só) para invisuais, num suporte áudio de acesso facilitado, sem intermediários.

• A necessidade de acesso a obras fundamentais da literatura portuguesa em departamentos portugueses de universidades estrangeiras, em que paralelamente ao interesse dos textos, na sua versão escrita, (muitas vezes de acesso dificultado) importa aduzir o conhecimento da língua na sua componente oral e na sua especificidade de língua viva, portanto falada, acrescentando-lhe a mais valia de reconhecer particularidades da linguagem literária na sua componente audível.

Narrador: Luís Aguilar

Realização:
Labcom
Apoios:
Universidade da Beira Interior
POS_Conhecimento
FEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
Acessibilidade:
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